Newsletter Destino COP30

Fundador e diretor criativo da Osklen, Oskar Metsavaht acredita no potencial do Brasil de se tornar uma referência em desenvolvimento sustentável ao impulsionar uma bioeconomia com valor agregado, o que contribui para fortalecer a percepção internacional sobre o que é produzido por aqui. Desde a Eco-92, conferência realizada no Rio de Janeiro que abordou de forma pioneira questões fundamentais sobre preservação ambiental nas atividades econômicas, Oskar compreendeu a necessidade de valorizar nossa cultura e biodiversidade e aproveitar esses aspectos em um modelo de empreendedorismo de transformação. 

“O Brasil tem a capacidade de qualificar a mão de obra e se tornar uma referência em desenvolvimento sustentável, utilizando recursos naturais de forma criativa e responsável.”

Hoje, na posição de embaixador da UNESCO para Sustentabilidade e para a Década do Oceano ONU 2021-2030, o empresário vê a COP30 como uma oportunidade de apresentar ao mundo o que realizamos ao longo desses últimos 30 anos. “Existe a necessidade de colaboração, de encontrar um eixo comum a todos e organizar um projeto no qual os critérios de sustentabilidade globais e nossos próprios estejam alinhados com nossas possibilidades sociais e econômicas, gerando valor para dentro e para fora do país”, diz Oskar na entrevista que ele concedeu com exclusividade à newsletter Destino COP30.

Confira a entrevista!

Destino COP30

Você conseguiu imprimir a diferentes segmentos as características brasileiras atreladas ao conceito de um novo luxo, no qual traz o protagonismo da sustentabilidade brasileira aliado a uma estética sofisticada. Fale um pouco sobre sua trajetória. 

Oskar Metsavaht: A sustentabilidade está no DNA do meu trabalho como artista, designer, empresário e como Embaixador da Boa Vontade da UNESCO para a Sustentabilidade e para a Década do Oceano ONU 2021-2030. Minha relação com a natureza vem desde a infância: meus avós paternos vieram da Estônia, um país reconhecido por um design minimalista com recursos naturais. Meu sobrenome Metsavaht significa, em estoniano, “guardião da floresta”. Tive uma educação na qual a natureza era sempre valorizada e respeitada. 

Desde a Eco-92, compreendi que era essencial valorizar nossa cultura, nossa incomparável biodiversidade e a potência transformadora do empreendedorismo de transformação — seja ele social ou privado. E valorizá-lo como o novo luxo do século XXI. O luxo tradicional pode ter se originado na Europa, o novo luxo vem do Brasil. É aquilo que vem das coisas que têm impacto social positivo, que inspiram e respeitam as nossas diferentes culturas e usam a riqueza da nossa biodiversidade de forma sustentável, com qualidade internacional de produtos e serviços.

Uso a criatividade como ferramenta estratégica para promover a sustentabilidade, base de toda a minha trajetória. Ao longo desses anos, desenvolvi junto ao Instituto-E cases de desenvolvimento sustentável, agregando valor a commodities e matérias-primas como os relacionados ao algodão – projeto que inspirou a filosofia que guia até hoje as iniciativas que desenvolvemos – e ao pirarucu, beneficiando toda a cadeia: da capacitação à inovação, gerando impacto positivo tanto econômico quanto socioambiental.

Qual é a importância do Brasil em ter uma marca forte em um contexto global? 

Oskar Metsavaht: Embora o Brasil seja um grande exportador de commodities, a manufatura nacional ainda é vista como de baixa qualidade. Precisamos e temos o que é preciso para mudar essa percepção. 

Isso porque o Brasil tem a capacidade de qualificar a mão de obra e se tornar uma referência em desenvolvimento sustentável, utilizando recursos naturais de forma criativa e responsável. A criação de um selo forte MadE in Brasil – como uso nos produtos que desenvolvo com meus times – reconhecido e respeitado internacionalmente requer união para criarmos um movimento robusto aliado a uma forte visão empresarial. Temos a chance de dar uma grande virada nos rumos do país e do planeta.

No mundo contemporâneo, inovação e responsabilidade andam juntas. Em vez de ver a sustentabilidade como obstáculo, precisamos vê-la como oportunidade. É saber usar a criatividade para transformar a percepção da sociedade. Essa é sem dúvida a melhor forma de criarmos, em termos de comunicação, uma linguagem universal, para conseguirmos falar quem somos e o que fazemos para as várias culturas do mundo, e não falar apenas para nós mesmos. 

Como criar uma Marca Brasil, o “Made in Brasil”, que seja perene e autêntica? O que falta para isso acontecer? 

Antes de mais nada, precisamos entender que somos, sim, o país da economia do século XXI. O país da economia verde. O Brasil representa e o mundo quer ter produtos e serviços que venham da natureza, dos recursos naturais, de uma forma sustentável, de impacto social positivo.

Um estudo do Net Zero Industrial Policy Lab da John Hopkins University, por exemplo, indica que somos um dos quatro países do mundo com maior capacidade de liderar a transição energética em âmbito global – os demais são China, Rússia e Estados Unidos. 

Essa não é uma marca de governo, da Osklen ou de outra empresa, mas uma união daqueles que  fomentam a cultura e a economia do país. É um olhar do ponto de vista empreendedor, de transformação a partir do talento artístico-cultural, científico e tecnológico que o Brasil tem e do conhecimento da nossa biodiversidade. 

Para isso, precisamos de liderança, não necessariamente uma pessoa, mas um grupo de instituições que possa assumir essa estratégia. Existe a necessidade de colaboração, de encontrar um eixo comum a todos e organizar um projeto no qual os critérios de sustentabilidade globais e nossos próprios estejam alinhados com nossas possibilidades sociais e econômicas, gerando valor para dentro e para fora do país.

Como seguir o caminho de uma Marca Brasil forte? 

Estamos no final de 100 anos de industrialização, período em que não pensamos em preservação ou desenvolvimento sustentável; é tudo muito novo. Estamos nas primeiras décadas de um novo milênio, mudando nossa forma de viver e conviver. 

Ser 100% sustentável ainda é um desafio. Mas precisamos dar o primeiro passo, mesmo que ele represente 1%, e construir a partir daí. 

O uso do couro de pirarucu, por exemplo, é uma forma de agregar valor a um recurso natural da Amazônia, o que enriquece toda a cadeia produtiva, desde o ribeirinho, a quem manuseia nos curtumes, e os que tingem o couro, até chegar no consumidor final, que também se beneficia de um produto com menor impacto ao meio ambiente. Esse projeto é reconhecido internacionalmente.  Uma bolsa feita com o couro do peixe símbolo da floresta tropical faz parte da coleção de história da moda do Victoria & Albert Museum, em Londres. É a única peça de uma marca brasileira em seu acervo. 

É um projeto de pequena escala se comparado a exemplos de outros setores da economia, mas que têm o poder de impulsionar uma bioeconomia com valor agregado e que contribui para fortalecer a percepção internacional sobre o que é produzido no Brasil. 

Você acompanhou a Eco-92 e isso impactou profundamente o seu trabalho. O que podemos esperar do Brasil da COP-30?

O futuro do Brasil – econômico, cultural e, por que não, espiritual – é promover a economia verde. É preciso ter uma liderança no discurso dessa visão e unir todas essas iniciativas e stakeholders de um país. A COP 30 também está buscando isso. O evento é uma grande oportunidade para a sociedade civil organizada e não organizada, governamental ou não, apresentar ao mundo, na Amazônia, o que realizamos ao longo desses últimos 30 anos, desde a Rio-92.  

Neste ano, tive a oportunidade de representar o Brasil durante a Conferência Mundial sobre Oceanos da ONU, que aconteceu na França. Um encontro de pessoas que querem fazer transformações, desde a iniciativa privada, passando por lideranças políticas e chefes de Estado. Estavam todos juntos e com o objetivo de se organizar e fazer uma transformação muito grande. E ao mesmo tempo a gente vê o quão difícil é. 

Espero que possamos mostrar ao mundo o que nós temos, fazemos e podemos fazer – desde os projetos realizados pelos povos da floresta, aos projetos de instituições de pesquisa ou industriais, empresariais etc. Que essa seja a oportunidade de consolidar uma visão e promovê-la, levando aos stakeholders de transformação que estarão na conferência. Temos vários projetos maravilhosos pelo Brasil e todos nós estamos sozinhos em cada um, é hora de nos unirmos para levarmos a Marca Brasil mais longe. 


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