No seu papel de bolsa de valores, a B3 se prepara para uma participação na COP30, focada no financiamento climático e na mobilização de stakeholders. O objetivo central é promover o engajamento dos participantes de mercado em instrumentos que atendam às demandas da agenda climática, sobretudo para viabilizar e acelerar projetos de mitigação e adaptação. Quem afirma é Janaína Vilella, diretora de Comunicação e Sustentabilidade da B3, que conversou com a Destino COP30 com exclusividade. 

“Temos o propósito de estabelecer uma rede de colaboração que promova a evolução na agenda das finanças sustentáveis e estamos preparados para operacionalizar o fluxo de capital para os projetos que atendam às necessidades emergentes dos nossos clientes e da sociedade civil”, diz.

Confira o bate-papo exclusivo na íntegra!


  1. Qual você acredita ser o papel da B3 na discussão global sobre mudanças climáticas, principalmente no financiamento de projetos para acelerar as transições que precisam ser feitas?

A B3 desempenha um papel central na discussão global sobre mudanças climáticas. Costumamos dizer que não queremos ser uma bolsa verde, mas a “bolsa da transição”, facilitando o financiamento de projetos voltados para a descarbonização e sustentabilidade. Através de índices como o ISE B3 e o ICO2 B3, oferecemos aos investidores oportunidades de alocar recursos em empresas comprometidas com práticas sustentáveis. Além disso, nossa parceria com a ACX para negociação de créditos de carbono amplia nosso alcance e impacto no mercado de carbono.

  1. A B3 está colaborando com outras organizações ou entidades para abordar as questões climáticas na COP30 de forma mais amplificada? Como está essa articulação?

Teremos ações promovidas pela B3 e algumas outras que são conduzidas em parcerias com várias instituições. Sabemos que a o entusiasmo que estamos vivendo para a preparação para sediar a COP30 poderia resultar em atividades que se sobrepõem em escopo e audiência. Por isso, para fortalecer iniciativas existentes e aumentar o impacto do nosso trabalho, estamos atuando de forma colaborativa. 

Um exemplo dessa atuação no pré-COP é a Trilha de Capacitação da Jornada Rumo à COP30, que está sendo direcionada para profissionais do mercado financeiro e de capitais, capitaneada por associações e federações e apoiada por várias entidades do mercado. Já durante a COP, a B3 estará presente como apoiadora da Investment COP, uma iniciativa da Converge Capital e da World Climate Foundation, que visa desenvolver e debater o papel do mercado financeiro na transição climática e na biodiversidade. 

  1. Quais são as iniciativas específicas que a B3 está promovendo para facilitar o financiamento climático?

A B3 possui diversos instrumentos que ajudam a promover o financiamento climático, como títulos temáticos, a designação de ações verdes, e índices como o ICO2 B3. Além disso, estamos evoluindo constantemente a nossa plataforma de dados ESG Workspace para coletar e divulgar informações que incentivem investimentos sustentáveis. Nosso objetivo é criar um ambiente que facilite o fluxo de capital para projetos de descarbonização.

  1. O que exatamente vocês pensam sobre o surgimento de fundos privados de financiamento anunciados inclusive não apenas pelas empresas que deles fazem parte, mas pela própria presidência da COP30 como importantes alavancas?

O surgimento de fundos privados de financiamento é uma iniciativa positiva que vem ao encontro dos nossos esforços na B3. Esses fundos são cruciais para alavancar projetos de descarbonização e sustentam a transição das empresas para práticas mais sustentáveis. Acreditamos que essas iniciativas, ao lado de nossos próprios instrumentos e atuação como infraestrutura para o mercado de capitais, podem acelerar significativamente o progresso em direção a uma economia de baixo carbono.

  1. Quais você considera serem os principais desafios e oportunidades para o financiamento climático no Brasil, especialmente em relação às empresas listadas na B3?

Falar sobre finanças sustentáveis é enfrentar a dicotomia constante entre o potencial de impacto e os entraves de engajamento. Apesar dos estudos que comprovam o valor prático da sustentabilidade nas empresas, a integração com indicadores financeiros que tornem a pauta material para os investidores ainda é uma barreira a ser enfrentada. 

A transparência se torna mais do que discurso sobre as práticas e se converte em indicadores de impacto financeiro que podem facilitar o engajamento dos investidores, combatendo outro importante entrave para a evolução do financiamento climático: o fluxo de capital. 

É necessário que as empresas criem familiaridade com os instrumentos financeiros disponíveis e que, por meio da articulação intersetorial, existam cada vez mais estímulos para que esse tipo de instrumento financeiro se torne atrativo para todas as partes envolvidas. 

Há também uma necessidade crescente de padronização na definição de investimentos sustentáveis, que dificulta a comparação e a avaliação de projetos, tornando os investidores, principalmente estrangeiros, mais cautelosos. Parte deste desafio tende a ser sanado com o desenvolvimento da Taxonomia Sustentável Brasileira, que cria entre as empresas locais novas oportunidades de financiamento com padrões reconhecíveis internacionalmente. A colaboração entre stakeholders, incluindo setor privado, público e sociedade civil, são essenciais. 

  1. Como a B3 está trabalhando para aumentar a transparência e a divulgação de indicadores de sustentabilidade entre as empresas listadas hoje na Bolsa? Ainda falta letramento sobre o tema?

A B3 está permanente comprometida com a transparência e divulgação de indicadores de sustentabilidade, promovendo o reporte de práticas ASG através de iniciativas que foram pioneiras no mercado brasileiro, como o ISE B3, lançado em 2005, ou recentes, como o Anexo ASG e o índice IDIVERSA B3. Apesar dos avanços, ainda há necessidade de letramento sobre o tema, e investimos no relacionamento e parceria com as empresas para capacitação, a fim de expandir o entendimento e a adoção dessas práticas.

  1. De que forma o ISE B3 e outros indicadores parametrizados por vocês estão conectados a questões de descarbonização e transição da matriz energética? Vocês recentemente reviram parâmetros do indicador ISE neste sentido? 

O ISE B3 e o ICO2 são fundamentais para promover a descarbonização e a transição da matriz energética entre as empresas listadas na B3. Recentemente, o ISE B3 passou por revisões metodológicas para incorporar tendências socioambientais emergentes. Por exemplo, aprimoramos indicadores na dimensão de Capital Humano e Governança Corporativa, alinhando-os com normas internacionais como a IFRS S1, o que assegura que as empresas estejam mais bem preparadas para enfrentar desafios climáticos. Lembrando que as normas IFRS S2 já são cobertas desde 2021 no processo seletivo do índice, por meio dos dados enviados pelo CDP à B3 para composição do score em relação à dimensão Mudança do Clima.  

O ICO2, por sua vez, também evoluiu significativamente. Ampliamos o universo de empresas elegíveis e adotamos critérios mais rigorosos, como a eficiência na relação entre emissões e receita, para assegurar que as empresas mais comprometidas com a redução de emissões em seu processo produtivo façam parte do índice. Esta reformulação resultou em uma carteira mais limpa, com uma redução de 88% nas emissões (em relação à carteira anterior), mostrando nosso compromisso em liderar a transição para uma economia de baixo carbono.

  1. Como você vê o futuro da sustentabilidade no mercado financeiro brasileiro? Quais tendências você acredita que irão moldar esse futuro?

O futuro da sustentabilidade no mercado financeiro brasileiro é promissor, com uma crescente demanda por práticas ASG e financiamento de projetos de descarbonização. Tendências como a ampliação da transparência de dados, o fortalecimento do mercado de carbono e a necessidade imperativa de não recuarmos na agenda de olhar a diversidade como um pilar nas estratégias corporativas moldarão esse futuro. 

Nosso país tem um potencial colossal de explorar a biodiversidade para desenhar soluções baseadas na natureza que contribuam para o desenvolvimento sustentável nacional e internacionalmente. Precisamos ser estratégicos e diligentes para destravar esse potencial do Brasil e nos transformarmos em um líder global na pauta de clima e de sustentabilidade.

Acreditamos que a sustentabilidade é uma responsabilidade compartilhada. Nesse sentido, trabalhamos para fomentar o conhecimento e a inovação, capacitando empresas, investidores e a sociedade a se unirem em torno de objetivos comuns, gerando resultados positivos para todos. O mercado de capitais desempenha um papel fundamental nesse cenário, não apenas como fonte de financiamento, mas também como um meio de converter riscos em oportunidades.


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