Newsletter Destino COP30

A cerca de três meses da COP30, muitas organizações ainda enfrentam uma tomada de decisão estratégica: participar ou não da Conferência, que pela primeira vez será realizada na Amazônia.

As dúvidas envolvem questões logísticas e financeiras, mas, sobretudo, o propósito da participação: por que uma corporação deve ou não enviar executivos a um encontro cujo objetivo central é um acordo entre nações?

Mas, afinal, quem transforma os acordos internacionais em ações concretas no território?

Essa é a pergunta que reforça o papel decisivo do setor privado. Não por acaso, a partir da COP26, em Glasgow, foi aberto espaço oficial à participação empresarial. As contribuições das lideranças corporativas são cada vez mais importantes dentro da agenda climática global, que se molda a partir de interesses diversos e interdependentes, que vêm se intensificando diante dos eventos climáticos extremos ao redor do mundo.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial, além do deslocamento de milhões de pessoas em razão das mudanças do clima, cerca de quatro mil mortes foram registradas em 2024 devido a eventos extremos. No Brasil, o Rio Grande do Sul enfrentou a maior enchente da história, enquanto a Amazônia viveu a sua seca mais severa.

A complexidade dos debates em torno da agenda climática e da busca por soluções eficazes levou a presidência brasileira da COP30 a focar em uma nova abordagem: valorizar o que já está sendo feito em diferentes partes do mundo. A proposta da Conferência não é lançar novas iniciativas, mas, sim, responder a perguntas fundamentais: o que está sendo implementado com resultados? Quem financia e quem executa? O que pode ser escalado para outros territórios? A COP30 inicia, portanto, um grande mutirão global de monitoramento e mobilização.

Espaço para posicionamento estratégico e fortalecimento de vínculos

Dessa perspectiva, a COP30 pode se tornar o palco ideal para que soluções brasileiras, desenvolvidas com base no uso eficiente dos recursos naturais, na ciência e na bioeconomia dos seis biomas, especialmente da Amazônia, ganhem visibilidade e reconhecimento.

É também uma oportunidade para que executivos e lideranças interajam com pares de diferentes países que enfrentam desafios semelhantes e buscam caminhos comuns rumo a uma economia mais resiliente, descarbonizada e regenerativa.

O cenário geopolítico e o impacto da desinformação climática, tema destacado no Relatório de Riscos da ONU por influenciar decisões de cidadãos em todo o mundo, também devem ser considerados. Esses fatores têm contribuído para tornar ainda mais complexa a definição de uma governança climática global. Os encontros promovidos nos diversos debates e eventos que acontecerão durante a Conferência podem ajudar executivos e representantes de organizações da sociedade civil a compreenderem a direção e a velocidade das decisões governamentais nos próximos anos. As políticas públicas podem estar voltadas a medidas de estímulo ao desenvolvimento sustentável ou, em um cenário global desafiador, tornarem-se menos restritivas a práticas tradicionais. Compreender essa dinâmica global é essencial para decisões estratégicas.

A participação da sociedade civil é outro ponto importante a ser considerado por executivos que atuam no desenvolvimento sustentável. Após algumas edições, a COP será novamente sediada em um ambiente democrático e efervescente nos debates sobre como equilibrar crescimento econômico e conservação da biodiversidade, dilema que, na prática, justifica a existência da Conferência desde a sua origem. Estar em Belém será uma oportunidade única de troca de experiências e conhecimentos.

Ao completar dez anos, o Acordo de Paris consolidou uma direção comum para governos, empresas e sociedade civil. E, ainda que sua implementação não tenha ocorrido com a velocidade necessária, os avanços já realizados contribuíram para evitar impactos ainda mais severos. A COP30 é o momento de reafirmar esse compromisso e acelerar as soluções que já estão em curso. O setor privado é parte fundamental desse diálogo global e quem não ocupa espaço nas mesas de negociação abre mão de influenciar os rumos das decisões que moldarão o futuro dos negócios e da sociedade.

Milena Herdeiro, sócia da Mirá Sustentabilidade


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